18.2.13

Ligeiro delírio do gosto


Imagem: reprodução/Google
Poesia: Danízio Dornelles
Gosto do gosto que tece
Na boca que inflama,
Do corpo que aquece
Ao mistério da chama,
Do suor que adormece
A palavra que exclama.

Gosto do gosto que bebe
O suspiro que exala,
Do olhar que percebe
O verbo que cala,
Da luz que concebe
O segredo da fala.

Gosto do gosto fecundo
Do teu desvario,
Abismo profundo
Dos olhos em cio,
Desejos do mundo...
Poemas do frio...


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15.2.13

Bento


Imagem: Reprodução/Google
Poesia: Danízio Dornelles
Foi-se outro papa
Riscado do mapa
Onde
Noutros tempos
A fúria dos ventos
Rasgava bandeiras
Cuspia fogueiras
Aos pés de Joana...
Foi-se,
Assim de repente
Rumor estridente
O papa, coitado
Na carta marcada
Deu logo o sinal:
Ataque dos mouros!
E logo partiu,
O papa-amigo
Levando consigo
Um pote de ouro...


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Pranto

Imagem: desconhecido
Poesia: Danízio Dornelles
Fechar os olhos,
Despertar cada segredo:
Outro dia senti medo
Que a estrela se apagasse,
Que todo o céu se abrisse,
Que escuridão me sorrisse,
E a noite inteira chorasse...


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Despedida
Correnteza
Escuridão da poesia
Caminhante
A agonia branca de um poema não-escrito

14.2.13

Sol em brasa e pele

Imagem: desconhecido
Poesia: Danízio Dornelles
O sol caminha
Num descaminho
Feito corpo,
Cintila raios de vida
Onde morrem meus olhos,
No vazio de teus passos,
Na luz de tua pele...

Confluência do tempo
No mistério das horas,
Queimando lentas
Por tua chama.

O sol - brasa e ferida,
Sangra a agonia...

Semente da vida
Quando vens,
Com navalhas de carne,
Silêncios de lua,
Respingos de flor,
A diluir meus medos...

Orvalho e areia,
Guardado secreto
No baú dos dias,
Na treva da alma,
Que clama por ti...


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Breve II

Imagem: desconhecido
Poesia: Danízio Dornelles
O tempo
(quando ele quer)
Repousa por um segundo,
Pra que o poeta veja o mundo
Nos olhos de uma mulher;
Depois,
A agonia invade,
Levando o mundo por diante,
Naquele mágico instante
Que os loucos chamam saudade...


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5.2.13

Humanos


Imagem: desconhecido
Poesia: Danízio Dornelles
Somos um fragmento de mundo, 
feito vida;
já emergimos do tempo,
sangrando a utopia da palavra
em despedida

Guardamos na lágrima
angústia de mar,
bebemos nas feridas
a cura do incurável:

A noite, impiedosa fada,
há de passar,
trazendo o alforje da sentença.

Somos um fragmento de mundo
em transformação,
opaca sombra, luz da crença,
a perambular no tempo
antes da morte

Somos pedra. 
A vidraça do comum é nosso norte


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2.2.13

O pecado da nudez

Imagem: desconhecido
Poesia: Danízio Dornelles
A fluidez da palavra
Tinge a loucura do mundo,
Concede-lhe um matiz
De carne, feito medo,
Uma estátua em chamas
Caminha sobre o ar,
E ambos caminhamos
Na mudez de seu segredo.

A espera das marés
Repousa em cada esquina,
Na palidez dos muros,
Onde acaba o infinito,
Confluência de corpos,
Desespero do invisível,
Num baú de cores mortas...
Num poema não-escrito...

Nua, a vertigem dos dedos
Clama por teu nome,
Selvagem quimera!
Noturna canção ao desalento!
Fagulha insone de trigo
Na pétala da epiderme,
Penetra todo o delírio
Num efêmero momento.

A premissa da carne
Vem queimando o mistério,
E consome a inocência
Na cicatriz do calor,
Pelo fruto, o tormento
É voraz feito um lobo:
"Todo gosto é teu gosto,
Só o pecado, teu amor"


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