25.7.14

Ocaso

Imagem: Google/Reprodução
Poema: Danízio Dornelles

Ele era o silêncio
A gris amplidão
A face escondida
No avesso do não

Ela, redemoinho
Que vem, dilacera
O brilho do fogo
Queimando a espera

Ele, pôr-de-sol
Numa noite qualquer
Encantou-se do vento
Qual fosse mulher

Ela era muitas
A foice, a prisão
A maçã da promessa
Tão perto da mão

Ele, calmaria
Soturno, abstrato
Moldura do tempo
Qual fosse retrato

Ela era assim
(que se há de fazer?)
Espinho que sangra
A carne a morrer

Ele, o espelho
Da sombra que passa
Imagem do algoz
Que ora lhe abraça

Ela era 'Werther'
Porém pelo avesso
A ditar 'Noites Brancas'
Nas quais adormeço

Mas um dia, o acaso
E dois passarinhos
Vestidos de asas
Nublaram o ninho