28.4.12

Tempo do Trabalhador

Autor: (poesia/imagem): Danízio Dornelles
O cinza da vida
Extrai um raio de luz 
Dos olhos do trabalhador,
Perpetua a esperança inacabada,
Na calosidade das mãos,
Na rigidez do tempo,
Na miséria paga pela força
Que não tem preço...
O cinza da vida
Extrai uma gota de suor,
E outras mais,
E tantas mais,
Que se desprendem
De um corpo cansado,
Fecundando o mundo
De obreiros sonhos,
Milhões de silêncios,
Milhões de braços,
Veias e músculos,
Sangue que não tem pátria
Ou fronteira.
A vida escorre generosa
Na face do trabalhador,
Irriga-lhe os sulcos do rosto
Em desmedida quietude,
Como o tempo
Dos que não tem tempo.
Um raio de sol
Penetra-lhe a visão desperta,
Cinge-lhe o corpo
Um calor de brasa e ventania:
No martelo de ferro
E nas mãos de carne
repousa o mistério
De um novo tempo.

15.4.12

Ruas


Autor (poesia/imagem): Danízio Dornelles
O cravo do céu
desperta em luz
os primeiros gemidos
do dia inocente
Por onde escorre
feito nuvem
o leite das manhãs em cio

De repente,
quero simplesmente
O que não é planta
e não é semente
A fertilidade da vida,
A poética das ruas
Sonhos obreiros
que se multiplicam
na parnasiana
dimensão dos muros

O cravo do céu
banha de luz
a escura tempestade
dos fios que dançam ao vento
Os passos seguros,
Os ônibus que passam,
Os gritos que anunciam o destino
daqueles que seguem...

Penetra na cicatriz do céu
Uma fagulha de frio,
Uma centelha
de vida ausente
Um abraço delirante
fugidio da escuridão
Inerte,
apenas contempla aquela
cujo destino
beija a poesia do muros
E dilacera o sentido               
dos itinerários comuns