22.12.12

Antes que o mundo acabe (Pistache-me)

Imagem: desconhecido
Poesia: Danízio Dornelles
Antes do fim do mundo
Pistache-me fundo
Um beijo em suor
Pistache-me um sonho
Um sonho qualquer
Gosto de mulher
Ou de mundo melhor

Pistache-me, peço
No fundo, padeço
Se sou, aconteço
Já não mais importa
Pistache-me, apenas
E por um segundo
Que se finde o mundo
Que se feche a porta

Pistache-me
Na vertigem do sol
(que se dilui)
Em cores e gostos
De copo e semente
Horizonte e leite

Pistache-me
(antes que o dia acabe)
Que o mundo finde
Que o céu desabe
Feito um brinde
A um poeta louco
Que se perdeu

Pistache-me
Em prosa e língua
Em verso e pernas
Em pele branca
Em noite escura
Em riso franco
Feito moldura

Antes que o mundo acabe
Céu púrpuro no horizonte
Vermelhos sonhos
Pistache-me...


Leia também:
O misticismo do frio
Delírio
Desvario secreto

20.12.12

Véspera de Natal

Autor (poesia/imagem): Danízio Dornelles 

O multicolorido das luzes
Para ofuscar a escuridão miserável,
Todos se abraçam!
(Vamos, prove!
Um pouco de ópio não fará mal...)
Esqueça o vazio das mãos estendidas
Do lado de fora das vitrines,
Que agora estão cheias de corpos vazios,
Esqueça o brilho morto
Do olhar perdido sobre a calçada,
Esqueça a esperança
Dos que perderam a fé,
Dos que sabem
Que ninguém virá,
E, se vier, será para poucos...

É tempo de paz!
Paz, para quem consome
A razão da miséria alheia.
Do lado de dentro,
Atrás das portas com grades de ferro,
A espera sagrada é sorvida num cálice de sorrisos;
Lá fora, a infinita tormenta
Não cala, não espera...
Alguém sempre chega,
Antes mesmo de dezembro,
Para consumir frágeis corpos
Pelo caminho frio das calçadas humanas,
Desumanas...
Inocentes sentidos adormecem
Sem saber o porquê...

Feliz Natal!
Brindemos a eles,
Que rastejam sob o papelão imundo
Dos obstáculos diminutos,
Deitados em nosso caminho,
A sangrar a permanente agonia,
A qual, desavisados, chamamos existência...


Leia também:
A estética (dos que morrem) do frio
É demais a Capital!
Uma trégua da fome

6.12.12

A agonia branca de um poema não escrito

Imagem: desconhecido
Poesia: Danízio Dornelles

Poesia de carne, tempestade noturna
Sangraste o moinho da paz
Com o mais sombrio dos devaneios...
Rasgaste os ventos em teu murmúrio
Adormeceste o fogo em teu peito
Na chama mais louca que a noite concebeu

Trago-te um papel em branco
E nele transfiguro tua alma
Como poema de vida ou de morte
No sal do mar que não conheço
Na cicatriz da lágrima (agora íntima)
Na agonia do agosto de tantos mortos
Esta palavra tua, encantada
E este meu silêncio de inverno

Não sangres o soneto
Nem decifres a mensagem
O cotidiano espreita nas sombras mais sombras
E meu querer mutilado
Tem sonho nos olhos
E poesia nas mãos...

O oceano da utopia que desconheço
Leva para longe o pequeno barco
No translúcido do vidro, a mensagem:
Os últimos recados
A inércia de um poema não escrito
Na agonia branca de uma folha de papel


Leia também:
Correnteza
Confabulação entre mar e tempestade
Nostalgia

30.11.12

Desmundo


Imagem: desconhecido
Poesia: Danízio Dornelles
Comer o pão
que o diabo amassou
no leite derramado
por séculos a fio...

Diabo?

O mal traz a cruz,
sangra a quem convém,
mata em nome do bem...

Acaso alguém

26.11.12

Pôr-do-sol *

Poesia/Imagem: Danízio Dornelles


Carvão negro e alma clara,
Orvalho e fogo da noite,
As pétalas contra o vento
(o vento da eternidade),
Descabelando minha alma
No pôr-de-sol dos cabelos,
Que resguardam meus silêncios
Caminho, sonho e verdade!

Calidez da tua pele
(mistérios na flor do nada),
Peregrinos mar adentro,
Amor à luz do farol,
Remanescentes do tempo,
Razão que ninguém compreende:
No beijo, o brilho da lua,
Nos cabelos, pôr-de-sol...

Rutilante melodia,
Mel da terra, água e madeira...
E a antiga geada dos olhos
Foi cascata sobre a face,
Orquestra de um canto puro
(que um dia já foi cantado),
Que adormeceu noutro tempo
E a cada vida renasce!

Pôr do sol, brilho da lua
E as velhas linhas do tempo...
Silente voz que só ouve
Quem tem ouvidos além:
O beijo é a estrela desnuda
(perdida num outro espaço),
Caminho predestinado
Na profecia de alguém!

Antigas almas sonoras
Na poeira dos descaminhos,
Encontrei-me além-mar
(esculpindo o arrebol):
No corpo a face da lua,
Nos olhos, brilho da noite,
No silêncio nossas almas,
Nos cabelos, pôr-de-sol...

*pôr-do-sol ou pôr do sol? (http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=2845)

23.11.12

Os olhos de Korda repousam sobre Cuba

Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
A Alberto Korda, fotógrafo cubano. Autor da imagem
mais reproduzida no século XX, "el Che"

Insurgente,
um raio penetra a escuridão
e tudo se faz luz

Somos todos pedra,
por onde a utopia esculpe
uma vertigem de luta

Os olhos de Korda
repousam sobre Cuba,
delineiam o novo matiz,
forjam um sentido de povo:

-Nasce uma vertigem de luta
nos olhos de Korda...

Há uma menina
com morenos traços
diante da lente,
corroída madeira
como prolongamento dos braços,
inocentes sonhos,
esvoaçando a face triste,
como se a dor fosse, assim,
uma irmã mais velha.

Os olhos de Korda
repousam sobre Cuba...
Insurgente, um raio lhe desperta
uma utopia lhe governa,

Korda não mais adormecerá.

21.11.12

Rebeldia

Imagem: França, maio de 1968
Poesia: Danízio Dornelles
Mulher que despertas
A lua consciente
No vermelho do sol
Te chamo amanhã
Nos olhos sedentos
Nas veias latentes
O sonho insistente
Te fez nossa irmã

Carregas no ventre
A semente mais pura
A flor estridente,
O mistério, a razão
O canto comum
Pra calar a tortura
A noite escura
Pra revolução

És mãe das enxadas
Esperança liberta
Forjaste a utopia
Pra a morte do medo
O fruto do sangue
Das veias abertas
Pra hora mais certa
Guardaste o segredo

Temor dos tiranos
Senhores do luto
Acalanto da vida
Fecunda a verdade
Clarim dos humildes
A cada disputa
Bandeira de luta
Mulher-liberdade

20.11.12

Caderno Azul

Imagem: desconhecido
Poesia: Danízio Dornelles

Um amigo com um caderno azul
Procura por si
(ou sou eu que ando perdido?)
Procura entre os espinhos
Que, no pátio, eternamente se multiplicam,
Procura nos olhos da menina
(que, escondida no quarto,
busca o refúgio do mundo)...

Um amigo com um caderno azul
Traz calma nas palavras
E tormentas no abismo secreto,
Que é seu interior;
Notas tristes no violão
Para encantar 
Os que já perderam o encanto...

Um amigo com um caderno azul
Procura uma gota de mar,
Mar de Neruda!
Mar de Alfonsyna!
Mar de Vinícius!..
Compõe devaneios reais
Em mundos imaginários,
Empresta suas rosas negras
Para que alguém
Escreva um poema triste;

Um caderno azul e um amigo...
Ambos, por vezes adormecidos,
Em represada fúria da noite interior,
Estão – talvez – lado a lado.
Ambos a procura de si
(ou sou eu que ando perdido?)

17.11.12

Paola

Imagem: desconhecido
Poesia: Danízio Dornelles
Uma lua silenciosa adormece sobre ti
Buscando paz em tua pele temporal
E nos olhos que margeiam o encanto
Sucumbe o pranto de uma noite lacrimal

Noturnas aves sangram o céu em desalinho
Voejam loucas num inverso pesadelo
Rasgam as nuvens e do ar fazem o ninho
Enfeitiçadas pela noite dos cabelos

E cada estrela no teu corpo é madrugada
No estranho toque de uma brisa em agonia
Como Neruda, uma canção desesperada

Bebe em tua boca a espera de outro dia
Quando adormece cada sonho machucado
Desperta a vida nos teus lábios, poesia

Des(a)tino

Imagem: Desconhecido
Poesia: Danízio Dornelles
Coisa da pele
Que sacia,
-Alquimia!
Conduz o delírio
Da loucura:
-Me procura!
Quando o avesso
For metade,
-Me invade!
Quando o céu
For um tormento,
-Desalento...
Sinal pra possuir
A tua chama,
-Que inflama,
O corpo insone
Acorrentado,
-No pecado,
De querer mais
A tua pele,
-Que repele,
Cada vazio
Que adormece,
-Então esquece!
Finge que a carne
Não domina,
-Me ensina,
A cantiga de conter
A dissonância
-Na distância...
O desatino febril
Por onde for:
-Teu amor!..

5.10.12

Parasita Político

Texto/Imagem: Danízio Dornelles (inspirado em Gog, Brasil com P)
Parasita público, político profissional, proíbe protestos, pronunciamentos populares. Por quê? Para permanecer plantado pelo poder. Parasita procura pessoas pobres. Prefere plantar problemas, pro político podre percorrer pequenos postos, prometendo pretensa perfeição. Parasita por perto: parte problema, parte projeto!

Pecado: partido político! Planos: panfletagens, passeatas pro povo prosseguir pensando pequeno. Psicologia: permanecer poderoso pela posteridade. Promessas: pintar praças, prorrogar parcelas, produzir pontes pra população periférica.

Parasitas puxam para perto pessoas puras. Proclamam "próximo pleito pretendo prejudicar poderosos". Piada pronta, porque poderosos partilham pão produzido pelo povo pobre. Parasitas políticos protegem poderosos, prostituem população, pisam pesado povo paciente.

Publicam panfleto pedindo pressa para problemas populares. Palhaçada! Problemas populares possibilitam para parasitas permanecerem pendurados pelo poder. Pleito por perto, parasita político percorre portas, promete paralisar problemas, promover projetos populares, paixão pelo povo, pequena parcela para proveito próprio.

Pós-pleito, problemas permanecem. Parasitas persistem pedindo pro povo "paciência... paciência...".

Para parasita perder poder, precisa processo pesado, passo perfeito, poderosas páginas. Passado promíscuo, presente podre: parasita, porém, permanece. Para pobre permanecer preso, precisa poucas provas: pão, presunto... pegou pedaço por participante pobreza, permanecerá presidiário - padecer primitivo - por período prolongado, previsto pelos planos perversos, predeterminados pelos próprios parasitas públicos.

Parasita pensa "povo politizado pode produzir poder paralelo"...

Perfeito! Poder paralelo possibilitaria pensamento participativo para população, pelo proveito plural, pelo próximo, para pisotear permanentemente pequenas pestes parasitárias, párias pelo passado punidos pelo presente.

Peguei pesado? Paciência!

20.9.12

Vida-noite, roda-amor...

Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
I
A vida é roda
Que se movimenta
Ao sopro dos loucos
Que o amor alimenta

II
A noite amanhece
Estrelas fecundas
Sementes de povo
Bandeiras do mundo

III
A roda é sol
Fugaz poesia
Que extrai do farol
A luz da utopia

IV
O amor é brasa
Que sangra o espinho
Semblante de asa
Apego de ninho

19.9.12

Farrapo do Tempo


Poesia: Danízio Dornelles
Imagem: Aline Peters
Silêncio, pois nessa hora
Em que tremulam bandeiras
Pilchas em falsos campeiros
Terrunhos da boca pra fora
Silêncio, porque agora
Faço em versos minha vigília
Enrubeceu-se a coxilha
Com mesclas de vento norte
Abrindo um manto de morte
Na alma dos Farroupilhas

Homens, mulheres, crianças
Sentindo o frio do rancor
Ofertando a própria dor
No sangue que aquece a lança
No horizonte, uma esperança
Pra quando a guerra acabar
Mesmos sonhos pra sonhar
Sorvendo a mesma incerteza
Sem ter pão na sua mesa
Sem ter rancho onde morar

Assim eram os Farrapos
Que a história apagou o nome
Maior inimigo – a fome
E os supremos desacatos
Cobrindo o corpo com trapos
No peito, anseios profundos
E os sonhos, que são fecundos
Nos que só colhem misérias
Não alcançam as artérias
Dos que dirigem o mundo

Pois quando os chefes locais
Reculutavam infelizes
Iam abrindo cicatrizes
Nos supostos ideais
E até mesmo os generais
No fulgor da autoridade
Ao conclamar: “Liberdade!”
De alma e punho cerrados
Sacrificavam os soldados
Em troca da propriedade

Serão heróis os covardes
Que lutavam pela plata
Será herói quem maltrata
E age com notoriedade
Aos ranchos pobres invade
Buscando o que ali não hay
Herói é aquele que vai
Trilhando estranhos caminhos
Sem levar nenhum carinho
Nem mesmo a bênção do pai

Por isso chamo valentes
Aos ancestrais de minha raça
Que não se encontram em praças
Nem nas molduras latentes
Mas que deixaram sementes
Plantadas sobre a coxilha
E chamo, sim, Farroupilhas
Aos herdeiros do abandono
Não sendo nem mesmo donos
Das garras de sua encilha

Então, ao invés de gritos
Rondas ou fogo-de-chão
Entrego meu coração
Pela alma dos aflitos
E, nesse gesto contrito
Minha voz é clarim de guerra
O instinto em meu peito encerra
A defesa de nossa origem
E os Farrapos que ainda vivem
Sem ter um palmo de terra

17.9.12

Vermelhas Bandeiras


Poesia: Danízio Dornelles
Imagem: desconhecido
É tempo
De toda esta gente
Ser fértil semente
Ser voz e ser povo
Tempo
De ocupar espaços
Estendendo os braços
Abraçando o novo

É tempo
Do fim dos conchavos
Os sonhos escravos
Já rompem correntes
É tempo
De ser esperança
Saber que a mudança
Depende da gente

É tempo
De campo e cidade
Mudar de verdade
A antiga herança
É tempo
De flores inteiras
Vermelhas bandeiras
De um povo que avança

16.9.12

Do avesso


Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Faço da pressa do abraço
Um tal recomeço
Que as vezes esqueço
A grandeza do espaço
O céu despedaço
Em alma e apreço
Pagando o preço
Da vida que faço
Assim fortaleço
A utopia no aço
Delírio e cansaço
Nem sei se mereço
Então aconteço
Na tua promessa
E a vida começa
Depois que adormeço

31.8.12

Hotel Minuano

Imagem: divulgação
Poesia: Danízio Dornelles
Alquimizei o tempo
Nos degraus de pedra
Escadas sem mapa
No rumo do céu
O meu infinito
Vestiu em tuas luas
Estrelas mais nuas
Que a noite nos deu

Adormecido sonhei
Acordado vivi
No escuro da luz
No claro do sol
Deixei a promessa
Do andar infinito
Em segredo escrita
No branco lençol

Ficou a utopia
Nas tuas paredes
Secreto poema
Que à alma convém
Parti mas fiquei
Diluído em apreço
No fim do começo
Buscando alguém...

28.8.12

É demais a Capital!

Imagem: desconhecido
Poesia: Danízio Dornelles
Lindo desde ontem
o pôr-do-sol...
Só a fome,
debaixo da ponte,
não tem ocaso.

Homens de negócios
transitam;
Crianças de pele e ossos
permanecem,
São parte da paisagem oculta
Aos olhos fechados
à miséria do mundo...

Porto Alegre é demais!

Prédios buscam o céu,
na terra falta pão.
A miséria em lentas horas
consome diminutas mãos...
Os olhos se estendem,
como galhos vazios
a espera de flor,

Centavos por sorrisos fugazes..

Motores aceleram,
Cortam o vento, cortam a noite
Derramam o gozo
no luxo dos monstros
de ferro e cimento...

Porto Alegre é demais!

Cinco da manhã

Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Cá, onde adormeço, 
vigio teu sono com asas macias...
Emplumadas sentenças
entre a fuligem opaca das estrelas
e o som das aves que denunciam:
a sexta-feira é caminho!

É noturno o meu apego.
Sou grão de trigo a escorrer 
na ampulheta do tempo;
o fruto das colheitas,
a utopia da vida!

O silêncio é cristal.
Ameaça despencar
no abismo matinal dos que, lá fora,
se apressam...

Na rua de terra,
os passos apressados
avançam;
só teu sono permanece.
Bebe no aconchego das nascentes,
repousa no ar,
no céu,
fogo, vento, tempestade
e escuridão,
que ameaça sucumbir...

Tudo é delírio!

Até que desperto
(transponho a inércia)
para desvendar o mistério oculto
na luz de teu corpo
que também amanhece...


5.8.12

Brilho Oculto


Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Somos um fragmento de luz
A meio caminho do amor
Por onde navega, rutilante
O insone brilho fugidio
De nosso baú de sonhos...
Somos um resto de mundo!
O princípio inacabado,
O próspero despertar
De uma natureza impune,
Que amanhece em cio.
Somos nós e seremos todos!
A face índia, o sangue negro...

Pulsa um coração de carne
No mapa de prata, feito lua
Nasce uma lua de fogo em nós...
Por onde vamos, somos segredo
O arquipélago insone nos vigia
Somos muitos e somos sós
Náufragos inquietos de Deus e de nós
Vigilantes de uma escassa utopia.

Outono


Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Hoje o vento que sopra é só nostalgia
Tocando meu rosto e o tempo vazio
Adormece o verde em todo o espaço
E só o teu abraço me livra do frio
A brisa noturna trás restos de vida
Na morte das folhas que cobrem o chão
As praças transpiram desejos amantes
Que a cada instante dão vida à estação
E nasce uma flor em pleno outono
Nos olhos morenos da menina-mulher
O canto de paz tem poesia e calor
E aquece o amor quando o inverno vier
Cai o sereno sob o céu de abril
E uma estrela perfeita se perde no céu
Tua lembrança é o tempo que vem me aquecer
E eu, sem saber, me perco também

Breve


Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Pra cada dia, um poema,
Pra toda noite, uma dor,
Pra toda dor, uma morte,
Pra cada morte, um amor!

1.8.12

Luzidio


Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Te espero, estrela insurgente
Luzidio espectro das ruas
Estendo braços ao poente
Na busca secreta por tuas luas
Serás tu de carne ou brasa?
Noturna canção ao desalento
O mundo esguio é feito asa
A vida espreita teu momento
Acende a chama da invernia
Navego assim, por onde for
Vela silente feito alquimia
Suspiro inerte feito amor

Insonofosforescência


Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Insone,
Que cada traço do teu abraço
Alimente o noturno da ausência
Insurgente facho de apego
Que dissolve o tempo feito lua
Na palidez da noite

Teu gesto ,
Calmaria e vendaval
No limiar do afago, que condena
Cúmplice fantasma errante
Inerte ao mundo mais comum
Que ameaça sucumbir antes do dia

Cá,
Deixamos nosso pó
Fragmento de luz
Fluido do amor maior

Além da asa,
Que medita tal encanto
Suspensos por um fio de utopia
Amanhecemos sonho
Amanhecemos povo
Amanhecemos mundo
Somos do antigo,
O que há de novo
E, num segundo
Somos do novo,
Um delírio primitivo

26.7.12

Utopia


Poesia/imagem: Danízio Dornelles

É real
nossa loucura
sem cura,

A procura
é luz
na noite escura,
que conduz
e transfigura...

Seduz,
inaugura
o apego,
que induz
desassossego.

A essa altura,
o aconchego
itinerante
do instante
se faz brasa:
Delírio constante...
Amor feito asa...

19.7.12

Comum é o sonho de tod@s

Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Bebi o vento dos Andes
Que a fronteira não separa
De Sandino a Guevara
Latinidades iguais
O amor só vence a morte
Quando a vida vence a fome
E a miséria se consome
Pela luz dos ideais

Meu canto
É uma bandeira cor de sangue
Que a ira dos covardes
Nunca pode silenciar
Brotei das flores
Das sementes fecundadas
Pelas almas mutiladas
Que morreram a lutar

Canto insurgente
América em rebeldia
No luar da poesia
Das enxadas sobre a terra
É a verdade dos humildes
Quando o sonho adormecido
Querendo ganhar a vida
Pela fome entra em guerra

Se vem do povo
A tempestade rasga a noite
E os escravos dos açoites
Fecundam a madrugada
Ao novo dia
Novo mundo em tons febris
Já não há mãos infantis
Pedindo pelas calçadas

3.7.12

Mudança


Imagem - França, Maio de 1968
Poesia - Danízio Dornelles

Passam os passos
em descompasso...
O povo tem pressa,
ocupa a praça!
Não há aço
que impeça,
não há promessa
ou ameaça
que desfaça
a crença.
A bandeira presença
(que rubra floresça)
conduz a esperança
que a morte padeça,
que o sonho renasça,
que tudo aconteça
no então recomeço
do braço
que abraça,
na vida que avança,
tomando o espaço
de crer que a mudança
agora aconteça
e que o sol permaneça
insurgente pedaço.