15.2.14

Refrão

Poesia/Imagem: Danízio Dornelles

Ingênuo fado
(que fascina)
deixa sementes
(de amor)
em bolas
de algodão;
a alma em flor
(de lua se ilumina)
num beijo
que amanhece
o gosto da estação

14.2.14

Dissabor

Poesia/Imagem: Danízio Dornelles

Amargo é o gosto do que não sinto
No verbo exposto em suor e absinto
Na escuridão a esmo e de mim mesmo
Margeia o fogo - e já o pressinto

Como num jogo ou num labirinto
A nuvem negra absorve a lua
Depois desvenda - delírio e afago
O mistério vago da imagem nua

Estás e não estás, cantiga e riso
Eis que te tenho, em carne e voz
Depois o abismo fecunda o espinho
E pelo caminho, só rastros de nós

5.2.14

Previsão

Poesia/Imagem: Danízio Dornelles

Dissolvido pela poeira do silêncio
Caminho a procurar-te, desternura
Pode ser que te encontre num espinho
Que é o amor mais real de quem procura

Pode ser que te encontre numa brisa
Que toque o rosto no epitáfio pelo avesso
Pode ser que te recorde mesmo assim
Buscando fim onde nem houve começo

Pode ser... pode ser que eu adormeça
Mal ferido por dragões ou por moinhos
Sucumbindo ao labirinto de mim mesmo
Sangrando a esmo o vazio de ser sozinho

Colheita

Posia/Imagem: Danízio Dornelles

Semente de teus passos
plantei na estrada de terra
o riso gravei nas pedras
o gosto, no temporal

Amanheceu

o dia feito de sol
caminho feito de asfalto
colheita feita de sal

4.2.14

Epílogo

- Imagem: Anna Yakova - Ramificações de árvore com as folhas de outono penduradas sobre o Rio Fontanka, Jardim de Verão, São Petersburgo, Rússia
- Poesia: Danízio Dornelles

Não florescerão mais girassóis em Amsterdam
Nem García Lorca pensará sobre o amor
Ficaremos para sempre adormecidos
Num baú sem cores, que perdeu o seu valor

Caminharemos por campos ondulados
Compondo estrofes de uma inerte poesia
Enquanto o sol queimar-te-á em desalinho
Sucumbirei ao ocaso de outro dia

Morreremos na promessa de uma tarde
No tabuleiro de pedras, na aquarela de um louco
Seguirei teu rastro sob a luz do esquecimento
Já curvado pelo tempo, que anoitece pouco a pouco

Teus rumos brandos beberão outros mistérios
Cada qual com suas luas pela frente
E a primavera, ao buscar o Rio Fontanka
Não beijará nada além de uma semente