31.8.12

Hotel Minuano

Imagem: divulgação
Poesia: Danízio Dornelles
Alquimizei o tempo
Nos degraus de pedra
Escadas sem mapa
No rumo do céu
O meu infinito
Vestiu em tuas luas
Estrelas mais nuas
Que a noite nos deu

Adormecido sonhei
Acordado vivi
No escuro da luz
No claro do sol
Deixei a promessa
Do andar infinito
Em segredo escrita
No branco lençol

Ficou a utopia
Nas tuas paredes
Secreto poema
Que à alma convém
Parti mas fiquei
Diluído em apreço
No fim do começo
Buscando alguém...

28.8.12

É demais a Capital!

Imagem: desconhecido
Poesia: Danízio Dornelles
Lindo desde ontem
o pôr-do-sol...
Só a fome,
debaixo da ponte,
não tem ocaso.

Homens de negócios
transitam;
Crianças de pele e ossos
permanecem,
São parte da paisagem oculta
Aos olhos fechados
à miséria do mundo...

Porto Alegre é demais!

Prédios buscam o céu,
na terra falta pão.
A miséria em lentas horas
consome diminutas mãos...
Os olhos se estendem,
como galhos vazios
a espera de flor,

Centavos por sorrisos fugazes..

Motores aceleram,
Cortam o vento, cortam a noite
Derramam o gozo
no luxo dos monstros
de ferro e cimento...

Porto Alegre é demais!

Cinco da manhã

Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Cá, onde adormeço, 
vigio teu sono com asas macias...
Emplumadas sentenças
entre a fuligem opaca das estrelas
e o som das aves que denunciam:
a sexta-feira é caminho!

É noturno o meu apego.
Sou grão de trigo a escorrer 
na ampulheta do tempo;
o fruto das colheitas,
a utopia da vida!

O silêncio é cristal.
Ameaça despencar
no abismo matinal dos que, lá fora,
se apressam...

Na rua de terra,
os passos apressados
avançam;
só teu sono permanece.
Bebe no aconchego das nascentes,
repousa no ar,
no céu,
fogo, vento, tempestade
e escuridão,
que ameaça sucumbir...

Tudo é delírio!

Até que desperto
(transponho a inércia)
para desvendar o mistério oculto
na luz de teu corpo
que também amanhece...


5.8.12

Brilho Oculto


Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Somos um fragmento de luz
A meio caminho do amor
Por onde navega, rutilante
O insone brilho fugidio
De nosso baú de sonhos...
Somos um resto de mundo!
O princípio inacabado,
O próspero despertar
De uma natureza impune,
Que amanhece em cio.
Somos nós e seremos todos!
A face índia, o sangue negro...

Pulsa um coração de carne
No mapa de prata, feito lua
Nasce uma lua de fogo em nós...
Por onde vamos, somos segredo
O arquipélago insone nos vigia
Somos muitos e somos sós
Náufragos inquietos de Deus e de nós
Vigilantes de uma escassa utopia.

Outono


Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Hoje o vento que sopra é só nostalgia
Tocando meu rosto e o tempo vazio
Adormece o verde em todo o espaço
E só o teu abraço me livra do frio
A brisa noturna trás restos de vida
Na morte das folhas que cobrem o chão
As praças transpiram desejos amantes
Que a cada instante dão vida à estação
E nasce uma flor em pleno outono
Nos olhos morenos da menina-mulher
O canto de paz tem poesia e calor
E aquece o amor quando o inverno vier
Cai o sereno sob o céu de abril
E uma estrela perfeita se perde no céu
Tua lembrança é o tempo que vem me aquecer
E eu, sem saber, me perco também

Breve


Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Pra cada dia, um poema,
Pra toda noite, uma dor,
Pra toda dor, uma morte,
Pra cada morte, um amor!

1.8.12

Luzidio


Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Te espero, estrela insurgente
Luzidio espectro das ruas
Estendo braços ao poente
Na busca secreta por tuas luas
Serás tu de carne ou brasa?
Noturna canção ao desalento
O mundo esguio é feito asa
A vida espreita teu momento
Acende a chama da invernia
Navego assim, por onde for
Vela silente feito alquimia
Suspiro inerte feito amor

Insonofosforescência


Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Insone,
Que cada traço do teu abraço
Alimente o noturno da ausência
Insurgente facho de apego
Que dissolve o tempo feito lua
Na palidez da noite

Teu gesto ,
Calmaria e vendaval
No limiar do afago, que condena
Cúmplice fantasma errante
Inerte ao mundo mais comum
Que ameaça sucumbir antes do dia

Cá,
Deixamos nosso pó
Fragmento de luz
Fluido do amor maior

Além da asa,
Que medita tal encanto
Suspensos por um fio de utopia
Amanhecemos sonho
Amanhecemos povo
Amanhecemos mundo
Somos do antigo,
O que há de novo
E, num segundo
Somos do novo,
Um delírio primitivo