20.9.12

Vida-noite, roda-amor...

Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
I
A vida é roda
Que se movimenta
Ao sopro dos loucos
Que o amor alimenta

II
A noite amanhece
Estrelas fecundas
Sementes de povo
Bandeiras do mundo

III
A roda é sol
Fugaz poesia
Que extrai do farol
A luz da utopia

IV
O amor é brasa
Que sangra o espinho
Semblante de asa
Apego de ninho

19.9.12

Farrapo do Tempo


Poesia: Danízio Dornelles
Imagem: Aline Peters
Silêncio, pois nessa hora
Em que tremulam bandeiras
Pilchas em falsos campeiros
Terrunhos da boca pra fora
Silêncio, porque agora
Faço em versos minha vigília
Enrubeceu-se a coxilha
Com mesclas de vento norte
Abrindo um manto de morte
Na alma dos Farroupilhas

Homens, mulheres, crianças
Sentindo o frio do rancor
Ofertando a própria dor
No sangue que aquece a lança
No horizonte, uma esperança
Pra quando a guerra acabar
Mesmos sonhos pra sonhar
Sorvendo a mesma incerteza
Sem ter pão na sua mesa
Sem ter rancho onde morar

Assim eram os Farrapos
Que a história apagou o nome
Maior inimigo – a fome
E os supremos desacatos
Cobrindo o corpo com trapos
No peito, anseios profundos
E os sonhos, que são fecundos
Nos que só colhem misérias
Não alcançam as artérias
Dos que dirigem o mundo

Pois quando os chefes locais
Reculutavam infelizes
Iam abrindo cicatrizes
Nos supostos ideais
E até mesmo os generais
No fulgor da autoridade
Ao conclamar: “Liberdade!”
De alma e punho cerrados
Sacrificavam os soldados
Em troca da propriedade

Serão heróis os covardes
Que lutavam pela plata
Será herói quem maltrata
E age com notoriedade
Aos ranchos pobres invade
Buscando o que ali não hay
Herói é aquele que vai
Trilhando estranhos caminhos
Sem levar nenhum carinho
Nem mesmo a bênção do pai

Por isso chamo valentes
Aos ancestrais de minha raça
Que não se encontram em praças
Nem nas molduras latentes
Mas que deixaram sementes
Plantadas sobre a coxilha
E chamo, sim, Farroupilhas
Aos herdeiros do abandono
Não sendo nem mesmo donos
Das garras de sua encilha

Então, ao invés de gritos
Rondas ou fogo-de-chão
Entrego meu coração
Pela alma dos aflitos
E, nesse gesto contrito
Minha voz é clarim de guerra
O instinto em meu peito encerra
A defesa de nossa origem
E os Farrapos que ainda vivem
Sem ter um palmo de terra

17.9.12

Vermelhas Bandeiras


Poesia: Danízio Dornelles
Imagem: desconhecido
É tempo
De toda esta gente
Ser fértil semente
Ser voz e ser povo
Tempo
De ocupar espaços
Estendendo os braços
Abraçando o novo

É tempo
Do fim dos conchavos
Os sonhos escravos
Já rompem correntes
É tempo
De ser esperança
Saber que a mudança
Depende da gente

É tempo
De campo e cidade
Mudar de verdade
A antiga herança
É tempo
De flores inteiras
Vermelhas bandeiras
De um povo que avança

16.9.12

Do avesso


Poesia/Imagem: Danízio Dornelles
Faço da pressa do abraço
Um tal recomeço
Que as vezes esqueço
A grandeza do espaço
O céu despedaço
Em alma e apreço
Pagando o preço
Da vida que faço
Assim fortaleço
A utopia no aço
Delírio e cansaço
Nem sei se mereço
Então aconteço
Na tua promessa
E a vida começa
Depois que adormeço