Poesia: Danízio Dornelles
Imagem: Aline Peters
Silêncio, pois nessa hora
Em que tremulam bandeiras
Pilchas em falsos campeiros
Terrunhos da boca pra fora
Silêncio, porque agora
Faço em versos minha vigília
Enrubeceu-se a coxilha
Com mesclas de vento norte
Abrindo um manto de morte
Na alma dos Farroupilhas
Homens, mulheres, crianças
Sentindo o frio do rancor
Ofertando a própria dor
No sangue que aquece a lança
No horizonte, uma esperança
Pra quando a guerra acabar
Mesmos sonhos pra sonhar
Sorvendo a mesma incerteza
Sem ter pão na sua mesa
Sem ter rancho onde morar
Assim eram os Farrapos
Que a história apagou o nome
Maior inimigo – a fome
E os supremos desacatos
Cobrindo o corpo com trapos
No peito, anseios profundos
E os sonhos, que são fecundos
Nos que só colhem misérias
Não alcançam as artérias
Dos que dirigem o mundo
Pois quando os chefes locais
Reculutavam infelizes
Iam abrindo cicatrizes
Nos supostos ideais
E até mesmo os generais
No fulgor da autoridade
Ao conclamar: “Liberdade!”
De alma e punho cerrados
Sacrificavam os soldados
Em troca da propriedade
Serão heróis os covardes
Que lutavam pela plata
Será herói quem maltrata
E age com notoriedade
Aos ranchos pobres invade
Buscando o que ali não hay
Herói é aquele que vai
Trilhando estranhos caminhos
Sem levar nenhum carinho
Nem mesmo a bênção do pai
Por isso chamo valentes
Aos ancestrais de minha raça
Que não se encontram em praças
Nem nas molduras latentes
Mas que deixaram sementes
Plantadas sobre a coxilha
E chamo, sim, Farroupilhas
Aos herdeiros do abandono
Não sendo nem mesmo donos
Das garras de sua encilha
Então, ao invés de gritos
Rondas ou fogo-de-chão
Entrego meu coração
Pela alma dos aflitos
E, nesse gesto contrito
Minha voz é clarim de guerra
O instinto em meu peito encerra
A defesa de nossa origem
E os Farrapos que ainda vivem
Sem ter um palmo de terra
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