30.11.13

Do brilho quente de estrelas em janelas frias

Imagem: Noite estrelada sobre o Rio Ródano, de Van Gogh
Poesia: Danízio Dornelles
nas horas mortas
o punhal da noite
fere os olhos das estrelas
(que choram brilho)

luz de contemplação
amor vivo que respinga
e escorre pelo corpo do tempo

e pelas janelas frias 
destas horas mortas
o que vem do espaço
são como passos
adentrando portas

há anos-luz é assim:
o incontido afago
sem volta
se desprende
da retina do universo
para morrer estopim

sucumbe na busca
de outra quimera
nas janelas e bocas
nos sonhos dos loucos
que deste brilho
fazem seu fim

25.11.13

Partida

Imagem: 
Poesia: Danízio Dornelles
Por onde irás,
oh vida?
Na contradança
deste sonho
mal ferido
pelo apreço,
entre uma noite
que suspira
desalento
(já sem volta)
ou querer

(sem endereço)

15.11.13

Eterno depois

Imagem: Fauna in La Mancha - Vladimir Kush
Poesia: Danízio Dornelles
insólito relâmpago
corta em fio
um retalho da tarde:
primavera arde
como brasa suspensa
no corpo do vento

tudo viceja.
tudo colore.

no brilho opaco
da parede morta
sombras se beijam
com bocas em flor

nas portas, alamedas:
porta-retratos de pele
sementes e grão.

esparsas silhuetas
de almas andantes
sedentas de mundo
famintas de pão

quantos sóis de silêncio
até o amanhecer do tempo
diluir-se em dois?
quanto caminho,
diurna promessa?

(infinita presença
no eterno depois)