28.4.13

Fragmento

Imagem: Google/Reprodução
Poesia: Danízio Dornelles
A margem oposta
ao centro
é meu norte
onde te encontro
passageira errante
em flor e poeira

Na estrada
sem  passos
ou espaços
meu abraço
se perdeu de ti

Desde então
viajo na sombra
da alquimia
do desencontro

O ceu se espanta
em desencanto
escandaliza
o amor-poente

A tua ausência
já transparente
no escuro canto
de um bem-te-vi
desconhece o fim

Pelo outono
que se propaga
fecunda a chama
indecomponível
do fragmento
que não se apaga

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Anjos

Imagem: Google/Reprodução
Poesia: Danízio Dornelles
Um anjo inerte
acolheu meu sono,
velando a lágrima
oculta em mar;
um anjo louco
e um pouco santo
em tênis de lona
pôs-se a voar...

Outro descalço
chegou depois:
vergas de terra
por entre os dedos,
falava coisas
sobre divisas,
romper as cercas...
matar o medo...

Vieram tantos,
e tantos mais,
esculpir o tempo,
estático grão;
havia um anjo
da tempestade,
havia um anjo
da escuridão...

Vieram todos,
do mar, da bruma,
da lua rasa,
das flores mortas;
vieram anjos,
(vermelhas pipas)
no céu que habita
por trás das portas...

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7.4.13

Noturno por Dom Ferreira

Imagem: Google/Reprodução
Poesia: Danízio Dornelles
Inspirado no espetáculo Terras de Fronteira, de Charles Ferreira

Densa morte,
estúpida sina
margeia a alma liberta
fez-lhe, o tempo, pergaminho
trouxe a vida, o desafeto

Cintila páginas
em ferida
pesada neblina
em remorso
restos de noite, perdidos
rangem sinistros nos ossos

Dom Ferreira
a tempestade
é lágrima em desvario
olhos presos no infinito
morre a alma
em assovio

Num fim de tarde,
esquecido
corda presa
em céu suspenso
Dom Ferreira beija a morte
no colorado de um lenço

Que amor terá nos olhos?
que poema
ainda lhe encanta?
amarra a corda em silêncio...
queima a agonia na pampa...

Haverá um fio de esperança
fagulha inerte do frio
curando
a alma do homem
cruzando
as águas do rio

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