9.5.12

Confabulação entre Mar e Tempestade


Autor:
Imagem - desconhecido
Poesia - Danízio Dornelles
A tarde retirante,
ferida pelo punhal noturno,
espraia os últimos sussurros.
– Que é o amor? – indaga o mar à tempestade
(perdido em redemoinho sem volta)

A jangada se perde
na linha do infinito,
entre mar e tempestade;
entre vida, morte, eternidade,
suspiro incontido e delírio dilacerante,
angustia dos dias que não passam,
febre dos instantes que ficam...

Contra a corrente,
em águas revoltas,
o esvoaçar do vento
cintila a embarcação.
Os remos do deus-destino
tocam, incestuosos, o corpo das águas,
tocam o corpo de quimera
(que também é natureza),
beijam os olhos daquela
a quem chamo de amor.

O vendaval dissipa a calmaria:
Oitenta raios insurgentes cingem o mar,
que, náufrago de si mesmo,
adentra a tempestade
num feitiço de luz e escuridão

– Que é o amor? – insiste o mar.
A tempestade apenas sorri...


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