20.12.12

Véspera de Natal

Autor (poesia/imagem): Danízio Dornelles 

O multicolorido das luzes
Para ofuscar a escuridão miserável,
Todos se abraçam!
(Vamos, prove!
Um pouco de ópio não fará mal...)
Esqueça o vazio das mãos estendidas
Do lado de fora das vitrines,
Que agora estão cheias de corpos vazios,
Esqueça o brilho morto
Do olhar perdido sobre a calçada,
Esqueça a esperança
Dos que perderam a fé,
Dos que sabem
Que ninguém virá,
E, se vier, será para poucos...

É tempo de paz!
Paz, para quem consome
A razão da miséria alheia.
Do lado de dentro,
Atrás das portas com grades de ferro,
A espera sagrada é sorvida num cálice de sorrisos;
Lá fora, a infinita tormenta
Não cala, não espera...
Alguém sempre chega,
Antes mesmo de dezembro,
Para consumir frágeis corpos
Pelo caminho frio das calçadas humanas,
Desumanas...
Inocentes sentidos adormecem
Sem saber o porquê...

Feliz Natal!
Brindemos a eles,
Que rastejam sob o papelão imundo
Dos obstáculos diminutos,
Deitados em nosso caminho,
A sangrar a permanente agonia,
A qual, desavisados, chamamos existência...


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