23.3.12

A estética (dos que morrem) do frio

Autor:
Imagem - desconhecido
Poesia - Danízio Drnelles
Tão belo
o frio que espero!
Não fosse a agonia da carne,
os lamentos mudos que se fundem
no vazio da madeira apodrecida;
Um assovio a mutilar os corpos,
sob a indiferença que flutua calmamente
entre a vida e a estupidez...

Tão belo
o frio que espero!
Não fossem os corpos desnudos
entregues à estética da geada,
não fossem as pequenas mãos
que viraram pedra,
os pequeninos olhos
que perderam o brilho,
os lábios cerrados
que choraram pão...

Tão belo
o frio que espero!
Não fosse a desgraça materna
de plantar na terra
o fruto inocente,
o beijo guardado
em flor e semente,
os trapos que cobrem
o que a vida deixou...

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