Texto: Danízio Dornelles
Nós, os poemas, deliramos subitamente na alcova das palavras.
Diluímos o verbo não dito no pecado de um beijo ou de um disparo na escuridão. Sangramos lágrima. Choramos suor.
Em carne viva, despimos a vergonha da plenitude.
Nós, os poemas, somos feitos de pelos e quimeras. Fragmentos de utopia. Afagos sinceros e rimas. Ingênuos fados que fascinam.
Entre o gosto e o agosto, um gole de metáfora dilui na noite o que não se dilui na pele. Então nós, os poemas, cantamos às mãos o que não se canta à lua.
Vestimos o gesto que esculpe as ruas. Somos um pouco de todos. Um fragmento de pedra. Uma alquimia de luta.
Porque entre nós, os poemas, não há o absoluto nem o fraterno abstrato. O que não corta, não serve. O que não sangra, não ama.
Anoitecemos, pois, entre estrelas e estrofes. Num céu que conspira em seu matiz de chama.
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