9.1.12

Arado-Poema

Autor (poesia/imagem): Danízio Dornelles

Meu arado-poema tem sangue, pele,
Alma, sonhos e vida...
É o predestinado pela força dos homens
A romper a virgindade simples da terra,
Que se entrega feito a um amor.

Ele bebeu do suor de quem o empunha
Na claridade dos dias
E na miscigenação das noites!

O arado-poema
Não abre covas,
Não tortura inocentes,
Não maltrata as flores que surgem pelo caminho...

Ele conhece os segredos das sementes
Que serão vida na mesa dos libertos!

O arado-poema
Divide e não acumula,
Fortalece e não aniquila;
Planta sonhos que mais tarde florescerão
Nas retinas puras de um menino.

O arado-poema
É irmão das enxadas,
Das sementes,
Das mulheres,
Dos braços,
Das mãos,
E dos sonhos;

Ele sabe que o mesmo vento que corta a face
E sangra o olhar nas manhãs de inverno,
Será um dia a fonte vigorosa a soprar o rubro sonho
Que sempre existiu hasteado no interior de nossas almas!

O meu arado-poema
Tem mais dos outros do que de mim...

Ele viu a terra ser manchada
Pelo sangue dos poemas silenciados
Que estavam a lutar;
Viu arados silenciados pela ira da ganância...
Viu a ganância, de perto, a nos rondar,
E, ainda assim, persistiu,
Porque o arado-poema sabe,
Que mesmo que tudo acabe,
É preciso sempre plantar...

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